segunda-feira, 7 de abril de 2014

MULHER PERDE 11 ANOS DE MEMÓRIA E NÃO SE LEMBRA NEM DO MARIDO, NEM FILHOS


Marido tem que reconquistar mulher que perdeu 11 anos de memória

Sabrina tem marido e três filhos. Mas, um dia, acordou e não reconhecia mais a própria família, nem a casa, nem os amigos. Ela tinha esquecido seus últimos 11 anos de vida e teve que empreender uma emocionante jornada de volta.

O nome dela é Sabrina, disso ela nunca se esqueceu. Mas, de repente, outras referências tão íntimas quanto o próprio nome desapareceram da memória dela. A empreendedora responsável por projetos sociais no mundo todo, mãe de três filhos, passou mal em casa e foi dormir. 
“Quando acordou, já não era a Sabrina, já tinha ido embora. A Sabrina que tinha voltado era uma Sabrina completamente diferente da pessoa que eu conhecia”, lembra o marido de Sabrina, Rafael Velasco.
“Eu já não sabia onde eu estava, quem era ele, as crianças, a casa, nada”, ela conta.
Foi em julho de 2013. “Eu não sei o que aconteceu no dia, tem que perguntar para ele”, brinca Sabrina.
O espanhol Rafael é o segundo marido da Sabrina. “Até que ele viu que a coisa era grave e chamou uma ambulância”, conta.
Desorientada, Sabrina afirmava para os médicos: estamos em maio de 2002. “Na minha mente, eu estava com 21 anos, eu já tinha voltado 11 anos atrás”, lembra.
Só que em 2002, Sabrina era casada com Vinicius, e o filho mais velho, hoje com 12 anos, tinha três meses de idade. O que aconteceu de 2002 até 2013 foi o que se apagou da memória dela.
“Todas as nossas experiências juntos, ela não se lembrava”, diz o menino.
“Ela chamava o ex-marido dela, que é o pai do ‘bebê’. ‘E o Vinicius? Onde está o Vinicius?’. Eu dizia: ‘filha, o Vinicius não é mais o seu marido’. E ela ficava desesperada: ‘mãe, como assim? Você está querendo me enganar por quê?’”, explica a mãe Doris Campos.
Quando deixou o pronto-socorro, Sabrina achou que voltaria para o endereço de 11 anos antes.
“Minha mãe me levou para a minha casa, e eu falando para ela:’ mãe, eu não moro no oitavo andar, eu moro no sexto. E esse daqui não é o meu prédio’”, lembra Sabina.
Fantástico: Quando ela entrou no apartamento, qual foi a reação dela?
“Ela ficou assustadíssima, e querendo sair e a gente forçando ela a entrar e ela querendo sair. E o pior era ver aquelas criancinhas assim buscando a mãe”, conta a mãe.
Tentando uma resposta, Sabrina e a mãe dela passaram pela emergência de mais três hospitais.
Um deles foi o Hospital das Clínicas de São Paulo. Os exames neurológicos não revelaram nenhum problema físico. No prontuário, o diagnóstico foi transtorno dissociativo de memória. Sabrina foi orientada a tomar remédios e a procurar um psiquiatra.
Adriana Fizman, especialista da Universidade Federal do Rio de Janeiro, explica que a causa desse tipo de amnésia geralmente são traumas que o paciente não enfrentou direito, como se o sofrimento fosse sempre adiado. 
“Trauma emocional muito intenso, vividos principalmente nas vidas de infância, adolescência”, ela explica.
De fato, Sabrina conta que seu passado foi marcado por um caso de abuso e por algumas perdas violentas, episódios que ela deixou meio de lado. E que, já adulta, ela dormia muito pouco e trabalhava demais.
“O estresse, a má alimentação, a falta de sono podem desencadear uma doença cardíaca em um, transtorno do pânico no outro. No caso dela, fez com que ela adoecesse dessa forma”, avalia a especialista.
Sabrina começou a usar a medicação prescrita no hospital, mas não se adaptou aos efeitos que os remédios causavam.
“Quando eu tomava a medicação, não me lembrava de nada. E quando passava o efeito, eu começava a lembrar de algumas coisas. E aí eu comecei a anotar em um caderno”, conta.
E começou a abrir uma porta para os 11 anos esquecidos.
Sem a memória dos últimos anos, Sabrina começou a andar muito por São Paulo tentando reconhecer a cidade, os lugares que frequentava, os amigos. E, nessa busca pela identidade, descobriu que algumas coisas a mente dela tinha apagado, mas o coração, não.
Logo nas primeiras semanas de amnésia, Sabrina tinha percebido que o contato com as pessoas mais próximas estimulava a memória afetiva e confiou nelas.
“Fui para o Parque Trianon com a minha mãe e a minha irmã e com um amigo dela, e eu vi as pessoas com tablet tirando fotos. Eu olhava aquilo e falava: ‘como assim? Vocês estão falando que eu estou em 2013, quer dizer que no futuro em vez de as coisas ficarem menores elas ficam maiores? Por que as máquinas fotográficas ficaram desse tamanho?’”, lembra.
E ouviu de um amiga as palavras que a fizeram tentar de vez retomar a própria história: “Você já decidiu ter essas crianças, eles são fato na sua vida. Eles estão vivendo o luto de uma mãe viva. Eles sabem que você não lembra deles, eles precisam de você’. Acho que, na mesma noite, eu liguei para o Rafa e falei: ‘fica tranquilo que eu vou voltar’”, diz. 
Foi aí que começou o trabalho pesado. “Percebi que a minha memória voltava quando eu sentia determinados cheiros ou escutava alguma coisas. Vinham imagens na minha cabeça”, relata.
Em uma tentativa de resgatar as memórias, a família da Sabrina organizou um encontro com amigos de várias épocas, da infância, da adolescência, amigos do trabalho, amigos que ela tinha conhecido recentemente. E aí eles foram contando histórias da vida dela para ela.
A ideia era que, misturados às histórias mais antigas, vivas na memória da Sabrina, os 11 anos perdidos voltassem à tona.
Como o crescimento da irmã, de 13 anos.
“Eu estava passando os meus melhores dias da minha vida com ela, ela me levou em eventos, ela estava realizando o meu sonho. E eu vou começar a chorar. E do nada ela esqueceu de mim e eu não podia falar com ela”, lembra a irmã Camila Campos
Sabrina tapou os olhos e abriu bem o olfato e a audição.
“Então, pouco a pouco, eles foram se apresentando a mim, eu segurava nas mãos deles e perguntava, quem sou eu pra você?”, conta Sabrina.
“Ela me cheirou e lembrou do perfume. Foi uma coisa meio estranha, mas a gente já conhece ela. A gente sabia que o processo seria diferente”, brinca Aniele.
“Acabei reconhecendo a grande maioria pelo cheiro e também pela voz”, diz.
“Eu falava para o Rafa: ‘eu estou lembrando de mim grávida das crianças, estou lembrando do nosso casamento’. E eu comecei a chorar muito, fiquei muito emocionada”, conta.   
E um dia sentiu que estava de volta. “Minha memória voltou no dia 30 de dezembro, eu já comecei o ano de 2014 em 2014”, comemora.
“Ele teve que fazer eu me apaixonar por ele de novo. Porque eu não aceitava ele de forma alguma”, diz Sabrina. 
“Foi fácil, ela é o amor da minha vida. Com muito amor, a gente conseguiu”, brinca o marido.

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